A prematuridade não é em si uma condição que possa comprometer a constituição psíquica ou que possa ser considerada uma etiologia segura e determinante para o desenvolvimento da deficiência intelectual ou para o autismo. No entanto, é inegável que os efeitos do tratamento e das primeiras experiências do bebê prematuro sejam duradouros e deixam marcas para a existência do bebê e de seus familiares. Isto se dá por fatores orgânicos, como traumas físico e dolorosos e fatores psíquicos que é a elaboração de todo um parto prematuro para todos os atores envolvidos: a mãe, o pai e o bebe.
Na prematuridade extrema a mãe precisa elaborar o nascimento abrupto de seu filho e a ruptura da gestação que ainda estava em curso e em elaboração psíquica. Para a gestante, que deixa de ser repentinamente gestante para se tornar mãe e dar conta de que existe um bebê fora de seu ventre pode ser uma experiência de difícil simbolização. A sensação de completude da maternidade foi desfeita sem uma elaboração anterior necessária para a passagem de gestante a mãe. Ao mesmo tempo em que está se dando conta desta elaboração é necessário investir neste pequeno ser que se encontra em uma incubadora, em meio a fios e aparelhos.
Para o pequeno sujeito, o bebê, este pode encontrar dificuldades para construir sua imagem, em um corpo que se mostra tão desamparado e dependente de máquinas e dos cuidados de outro ser. E, muitas vezes, esse sujeito encontra-se diante de um Outro que está igualmente desamparado e que custa a lhe dirigir alguma palavra ou um sentimento de alegria. O pai pode encontrar dificuldades para entrar nesta cena e estabelecer um laço de trocas com a díade mãe-bebê.
Presenciamos que, muitas vezes, esses bebês hospitalizados se veem em uma solidão, de tal forma que apenas a máquina se torna sua possibilidade de enlace, ou são crianças que não foram faladas e não tiveram a oportunidade de entrada no mundo simbólico. Nesses casos em que familiares não conseguem falar com este bebê, envolvidos em sua dor e seus próprios fantasmas, ou mesmo quando os próprios bebês, diante da experiência traumática, recusam esta relação com esse Outro, criando uma espécie de Outro artificial, um Outro que não passa pelo simbólico, ou este simbólico é frágil e tem a preponderância do real.
Mesmo após a alta da maternidade o sentimento de desamparo e de desconhecimento do trato com o bebê frágil e em descompasso com a idade cronológica pode trazer efeitos para a constituição psíquica deste sujeito. Como se o saber parental e natural fosse substituído por um saber médico e técnico, cheio de procedimentos e normas para garantir a sobrevivência e o bom desenvolvimento. Muitas recomendações são seguidas de um prognóstico obscuro e carregado de possíveis limitações.
Com este pressuposto, a vivência e possíveis traumas da passagem por uma UTI neonatal podem sim trazer riscos para o sujeito desenvolver uma posição débil ou mesmo o quadro de autismo. O excesso de manejo e a necessidade de ser atendido de forma urgente podem levar a uma apatia dócil do bebê, com o perigo dele se fixar no duplo da identificação imaginária e não entrar no circuito da pulsão.
Por outro lado, a função materna pode ser desenvolvida ao extremo, como uma Mãe Toda, a mãe superprotetora ou como uma cuidadora artificial de seu bebê, com uma ação mecânica para encobrir a mãe faltosa ou mesmo o desejo que não está mais presente neste filho que é puro organismo. Nos dois casos, nos dois extremos não se tem clareza de um desejo, é um desejo obscuro, não se supõe um sujeito neste bebê e não permite que apareça a demanda desse sujeito.
O bebê pode recusar o toque ou a aproximação de outra pessoa por associar a presença do semelhante a experiência de dor e de desconforto dos primeiros momentos. O bebê devido uma experiência e sensação de muita dor ou por uma postura hipertônica que não lhe permite se aconchegar e se aproximar do outro para fazer as trocas de olhar e prazerosas, pode ir se afastando e deixando de entrar no jogo pulsional ou na operação necessária de alienação ao Outro para se constituir como sujeito de desejo.
Ressaltamos que não apenas a prematuridade, mas qualquer intercorrência no nascimento e mesmo o diagnóstico de alguma patologia ou síndrome genética podem acarretar essas posições psíquicas. Percebemos que bebês com quadros severos por questões orgânicas ou de hospitalismos podem dificultar o aparecimento da demanda, investimento libidinal do sujeito em sua constituição subjetiva.
Para tanto, defendemos ser fundamental o acompanhamento de bebês com estes quadros ou essas experiências e que possa ser detectado os riscos psíquicos e não apenas o desenvolvimento neuropsicomotor e aspectos comportamentais, como acontece na maioria dos protocolos utilizados nesta clínica precoce. Com estes fundamentos criamos o programa AB (Acompanhamento de Bebês) non CAIS (Centro de Atendimento e Inclusão Social) em Contagem e a Fase do Enlace em BH para atender a bebês e crianças até 3 anos.
O CAIS-Centro de Atendimento e Inclusão Social é uma instituição sem fins econômicos que atua há mais de 50 anos, com sede no município de Contagem. Atende mensalmente a 500 pessoas com deficiência, nas áreas de saúde, educação e social. Contempla todas as faixas etárias; de bebes a adultos, e acompanha as famílias das pessoas atendidas.
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